O corpo como barragem
Não sustenta as águas poderosas do caranguejo celeste.
Vaza pelas nossas cartilagens;
Vaza pelas rachaduras dos nossos ossos;
Sobe. E na nossa língua vira silêncio;
Nos nossos olhos, as águas encontram o mundo.
Havia saudade. Do mundo, digo.
Ao menos foram o que as águas dos olhos me disseram.
Não aguentavam mais ficar no escuro, paradas, olhando para baixo;
Para os demônios que dançavam e riam de quem elas eram.
Elas queriam o mundo, como Júpiter, que olha de cima.
Queriam correr pelo rosto daquele corpo que elas escolheram como morada
Beijando cada pedaço do rosto, se deliciando com o sal da pele.
No final de sua trajetória, quando encontra o queixo e pinga, carrega consigo toda uma história.
Uma lenda dos fundos, como uma criatura monstruosa dos mares;
Que destrói navegações e engole marinheiros.
E quando pinga no chão ou no moletom que se usa, se torna mito. Evapora.
Há também aquelas águas que não conseguem chegar ao fim de sua história épica;
As mãos de seus humanos mal deixam elas saírem aos mundos, logo as barram.
Limpam as lágrimas como quem esconde os pecados.
Esconde as águas como quem esconde um segredo.
Essas águas se transformam em tempestades, pois furiosas evaporam rápido;
Sobem as nuvens, clamam por todas as outras águas silenciadas
E jorram. Jorram uma chuva, jorram um choro dos céus, que não há quem segure.
Aqueles que saírem para fora de casa, terão que se molhar.
E essas águas torcem, torcem para o corpo que secou elas rapidamente, para que ele saia;
Pois é assim, que como um pingo de chuva, elas podem cair em seu rosto e viver como mito.
Escorrendo mais uma vez, sendo o monstro que veio para ser.
Até evaporar, por fim.
Feliz lunação de câncer.
Naê Della’Parma Prieto Salatim
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